sexta-feira, 10 de julho de 2009

Sobre poesia de morte e vida

Estamos a um segundo da morte, tanto pra frente quanto pra trás...
Podemos estar fantasmiando a muito tempo, assim como alguns amigos que perdi, com esse jeito que o ser humano arrumou de se locomover: o automóvel.
Dentro e fora do veículo, estamos a todos os segundos a um segundo da morte, tanto pra frente quanto pra trás.
Por isso devemos ter aquele maldito cuidado com o Santo Auto que dirigimos, tanto conosco quanto convosco.
É realmente incrivel como uma grande invenção do homem se torne uma ameaçadora máquina de morte.
Tritura e queimar carne, ossos e articulações.

Eu não quero colocar pânico em ninguém, mas é só pra gente refletir o quanto nossas vidas são frageis... E que devemos aproveitar ao máximo o que há de bom nela... Por fim, deixo poemas de Mario Quintana e Carlos Drummond de Andrade:

PROJETO DE PREFÁCIO

Sábias agudezas... refinamentos...
- não!
Nada disso encontrarás aqui.
Um poema não é para te distraíres como com essas imagens mutantes de caleidoscópios.
Um poema não é quando te deténs para apreciar um detalhe
Um poema não é também quando paras no fim, porque um verdadeiro poema continua sempre...
Um poema que não te ajude a viver e não saiba preparar-te para a morte não tem sentido: é um pobre chocalho de palavras.

[Mario Quintana]


DESEJOS
Desejo a vocês...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho.
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.


[Carlos Drummond de Andrade]

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